Ensinar não é transferir conhecimento No segundo capitulo do presente livro, Paulo Freire, deixa claro que na perspectiva pedagoga da autonomia, quando o professor ou professora entram em sala de aula eles já se mantêm imediatamente abertos as dúvidas, as curiosidades e as inquietações dos alunos, e também se colocam igualmente atentos as inibições, aos silêncios e a timidez que as vezes impõem obstáculos sérios a formação de alunos participativos, críticos e questionadores. A noção de que ensinar não é transferir conhecimento não deve ser apenas aprendida pelos professores e pelos alunos nas suas dimensões éticas, políticas, e pedagógicas. Mas, deve ser testemunhada e vivenciada na prática. Não adianta falar bonito sobre pedagogia se na prática não se configura em um exemplo concreto, ou seja, no próprio ato de falar sobre a construção do conhecimento a aula já deve envolver os alunos na própria formulação deste raciocínio. Porque quando todos realmente participam deste exercício do pensamento e se enxergam como participantes e sujeitos desse processo, essa noção fica evidenciada. Logo, se o professor, em um curso de formação docente, explica aos alunos que ensinar é criar as possibilidades para a produção do conhecimento, mas ele mesmo se contradiz no seu discurso ao interromper a fala dos alunos, ao se mostrar impaciente com as pausas, os acanhamentos e os embaraços que são naturais do processo de raciocínio e de aprendizagem, sua própria aula se torna inautêntica e perde sua eficácia. Esse discurso “bonito” e bem elaborado que não é testemunhado na pratica é tão falso quanto quem pretende estimular um ambiente democrático na escola através de métodos autoritários. É tão fingido quanto quem diz combater o racismo, mas quando perguntado se conhece aquele profissional negra, ele diz: sim, conheço. Ela é negra, mas é competente e decente. É preciso ficar claro que a conjunção “mas’’ naquela frase implica em um juízo falso, ideológico.
(Paulo Freire, 2002, P. 21/33) ed. 25ª.
Comments